sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

COMO COMPRAR O CD


PEDRO – SUAS CAUSAS SÃO NOSSAS CAUSAS!

Frei Beto, em um dos seus textos, diz que, no decorrer da nossa história, passamos muito tempo virados para a Europa, e acabamos perdendo de vista nossos “santos e heróis”. Segundo ele, as coisas não existem a partir do momento em que as conhecemos. Independem, felizmente, de nossa ignorância.” Melhoramos muito, mas ainda é precisamos nos descobrir.

Pedro é um desses “santos e heróis”, não tão conhecido, e nem tão homenageado como mereceria.
Nascido em Balsareny, região da Catalunha, veio para o Brasil e, em 1968, mergulhou na Amazônia. Nomeado bispo de São Félix do Araguaia, adotou como divisa princípios que haveriam de nortear literalmente sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”.

“Pastor de um povo ameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em choque com os grandes fazendeiros; as empresas agropecuárias, mineradoras e madeireiras.”
Poeta e revolucionário. Pastor dos negros e dos indígenas. Cinco vezes réu em processos de expulsão do Brasil e frequentemente ameaçado de morte. Continua hoje, morando em São Félix do Araguaia, numa casa humilde. Calçando apenas sandálias de dedo e suas roupas simples.

Este ano de 2013, foi um ano bastante difícil para Pedro, além de seu corpo fragilizado pela idade e também pelo Parkinson, teve pela primeira vez, que abandonar sua casa em São Félix do Araguaia, para se proteger de mais uma ameaça de morte de gente que “perdeu o trem da história”.
Para lembrar esse nosso “santo e herói”, reafirmar nosso compromisso com as causas de Pedro: Reforma agrária, fim ao trabalho escravo, uma Igreja mais fraterna, garantia dos direitos dos povos indígenas e proteção ao meio ambiente, é que estamos lançando o CD “PEDRO POVO E POESIA”.

O CD “PEDRO, POVO E POESIA”, é uma coletânea de 14 poemas de autoria de Pedro Casaldáliga e declamados por pessoas que fizeram e ainda fazem parte das histórias de lutas do Araguaia. São professores, agentes pastorais, estudantes, leigos, “enfrentantes” dos movimentos sociais, que emprestaram suas vozes para os poemas.

Pedro deu total liberdade para a escolha dos poemas. Numa das conversas com ele, apenas sugeriu: “– Escolha os mais espirituais". Não é preciso dizer que o desobedeci. Preferi os mais politizados, os mais engajados, nem por isso menos “espirituais”. Eles correspondem a um período mais duro e de mais acirramento das lutas na região do Araguaia. São poemas de luta, poemas-denúncias, poemas-proféticos.

Pedro, suas causas são as nossas causas!

Somos e seremos sempre “cabras da prelazia!”

Luis Paiva – primavera de 2013

A CAPA DO CD


PARTE INTERNA DO CD


A CONTRA CAPA DO CD


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NOSSAS VIDAS SÃO OS RIOS

Pedro Casaldáliga















Nossas vidas são os rios.
Minha vida é este Araguaia!
Indescritível,
indecifrável.
Que se ama e se agradece, e se teme e se deseja;
ao qual se volta sempre,
como a um lar, fatídico e feliz.

Exuberante e cruel,
a multiforme fauna,
presente ainda, condenada.
Os jacarés espichados, que atenazam o sol,
As placas insidiosas das Arraias.
As piranhas que serram carne viva.
E os peixes elétricos,
estalando a morte.
E os peixes de todos os tamanhos e luzes,
vorazes ou pacíficos,
miúdos,
brincalhões,
voadores.
(os peixes que dão vida,
holocausto á brasa e á pimenta.)
Os pássaros, vestidos a rigor,
senhores, diplomatas.
Essa fileira de patos colegiais,
que espera um ônibus ali na margem...
E, de súbito, o pulsar
frágil de uma canoa.

E as nuvens, acima,
cansadas e fecundas.
As famílias que chegam, retirantes;
os enfermos que vão á deriva;
as cargas, e as cartas trêmulas;
as mulheres batendo a trouxa indiscreta;
os homens na popa, os homens no remo;
e os meninos banhando-se,
somando-se ás águas, como peixes.
E eu, pela manhã, lavando-me do sono
com o espelho incandescente ao sol da outra margem;
eu, pela tarde, entrando, reverente, estrangeiro,
vestido pela luz poente e pura

na liturgia destas grandes águas... 

EQUÍVOCOS

Dandara Terra



















Onde tu dizes lei,
eu digo Deus,
Onde tu dizes paz, justiça, amor,
eu digo Deus!

Onde tu dizes Deus,
eu digo liberdade,
justiça,

amor!

DÁ-NOS A PAZ !

Pedro Casaldáliga





















Dá-nos Senhor aquela paz inquieta.
Que denuncia a paz dos cemitérios
e a paz dos lucros fartos.
Dá-nos a paz que luta pela paz.
A paz que nos sacode coma urgência do Reino.
A paz que nos invade com o vento do espírito,
a rotina e o medo.
o sossego das praias e a oração de refugio.
A paz das armas rotas e a derrota das armas.
A paz do pão, da fome de justiça.
A paz da liberdade conquistada
A paz que se faz nossa,
Sem cercas nem fronteiras.
Que tanto é shalon como salam
Perdão, retorno, abraço.
Dá-nos a tua paz!
Essa paz marginal,
que soletra em Belém
e agoniza na cruz
e triunfa na páscoa
Dá-nos Senhor aquela paz inquieta

que não nos deixa em paz!

TERRA NOSSA, LIBERDADE















Esta é a Terra nossa:
a Liberdade,
humanos !
Esta é a Terra nossa:
a de todos,
irmãos!

A Terra dos Homens
que caminham por ela,
pé descalço e pobre.
Que nela nascem, dela,
para crescer com ela,
como troncos de Espírito e
de Carne.
Que se enterram nela
como semeadura
de Cinzas e de Espírito,
para fazê-la fecunda como
uma esposa mãe.
Que se entregam a ela,
cada dia,
e a entregam a Deus
e ao Universo,
em pensamento e suor,
em sua alegria,
e em sua dor,
como o olhar
e com a enxada
e com o verso ....

Prostitutos cridos
da mãe comum,
seus mal-nascidos!
Malditas sejam
as cercas vossas,
as que vos cercam
por dentro,
gordos,
sós,
como porcos cevados:
fechando,
com seu arame e seus títulos,
fora de vosso amor,
aos irmãos !
(Fora de seus direitos,
seus filhos
e seus prantos
e seus mortos,
seus braços e seu arroz!)

Fechando-os
fora dos irmãos
e de Deus !

Malditas sejam
todas as cercas!
Malditas todas as
propriedades privadas
que nos privam
de viver e de amar!
Malditas sejam todas as leis,
Amanhadas por umas poucas mãos
Para ampararem cercas e bois
e fazer a Terra, escrava
e escravos os humanos!

Outra é a Terra nossa,
Homens, todos!

A humana Terra livre irmãos !

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CHE GUEVARA

Luis Paiva

















E, por fim, me chamou também tua morte
desde a seca luz de Vallegrande.
Eu, Che prossigo crendo
na violência do amor: tu próprio
dizias que "e preciso endurecer-se
sem perder nunca a ternura".

Mas tu me chamaste. Também tu.
(Os temas compartilhados, dolorosos.
Os múltiplos olhares moribundos.
A inerte compaixão exasperante.
As sábias soluções à distância...
América. Os pobres. Esse Terceiro Mundo,
quando não há mais que um mundo,
de Deus e dos homens!)

Escuto, no transístor, como te canta
a juventude rebelde,
enquanto o Araguaia pulsa aos meus pés, como uma artéria viva,
transito pela lua quase cheia.
Apaga-se toda luz. É só noite.
Rodeiam-me os amigos distantes vindouros.
("Pelo menos tua ausência é bem real”,
geme outra canção...Oh! a Presença
em Quem eu creio, Che,
a Quem eu vivo,
em Quem espero apaixonadamente!

... A estas horas tu sabes bastante

de encontros e respostas).

Descansa em paz. E aguarda, já seguro,
Com o peito curado
Da asma do cansaço;
Limpo de ódio o olhar agonizante;
Sem mais armas, amigo,
que a espada despida de tua morte.
(Morrer sempre é vencer desde que um dia
Alguém morreu por todos, como todos,
Matado, como muitos...)

Nem os “bons”-de um lado,
Nem os “maus”- do outro,
Entenderão meu canto.
Dirão que sou apenas um poeta.
Pensarão que a moda me ganhou.
Recordarão que sou apenas um padre “novo”.
Nada disso me importa!
Somos amigos
E falo contigo agora
Através da morte que nos une;
Estendendo-te um ramo de esperança,
Todo um bosque florido
De ibero-americanos jacarandás perenes,
Querido Che Guevara!

CANÇÃO DA FOICE E DO FEIXE

Luciano Souza





















Me chamarão subversivo.
E lhes direi: eu sou.
Por meu povo em luta, vivo.
Com meu povo em marcha, vou.

Tenho fé de guerrilheiro
E amor de revolução.
E entre Evangelho e canção
Sofro e digo o que quero.
Se escandalizo, primeiro
Queimei o próprio coração
Ao fogo desta Paixão,
Cruz de Seu mesmo Madeiro.

Incito á subversão
Contra o poder e o dinheiro.
Quero subverter a lei
Que perverte ao Povo em grei
E ao governo em carniceiro.
(Meu pastor se fez cordeiro.
Servidor se fez meu Rei.)

Creio na Internacional
Das frontes alevantadas,
Da voz de igual a igual
E das mãos enlaçadas...
E chamo a ordem de mal,
E o progresso de mentira.
Tenho menos paz que ira.
Tenho mais amor que paz.

...Creio na foice e no feixe
destas espigas caídas:
uma Morte e tantas vidas!
Creio nesta foice que avança
- sob este sol sem disfarce
e na comum esperança –


tão encurvada e tenaz

POBREZA EVANGÉLICA

Dandara Terra



















Não ter nada.
Não levar nada.
Não poder nada.
Não pedir nada.
E, de passagem,
Não matar nada;
Não calar nada.

Somente o Evangelho, como uma faca afiada.
E o pranto e o riso no olhar.
E a mão estendida e apertada.
E a vida, a cavalo, dada.

E este sol e estes rios e esta terra comprada,
Como testemunhas da Revolução já estalada.

E mais nada!

EU ME ATENHO AO JÁ DITO

Elisa Marin















Eu me atenho ao já dito:

A justiça,
Apesar da lei e dos costumes,
Apesar do dinheiro e da esmola.

A humildade,
Para ser eu, verdadeiro.

A liberdade
Para ser homem.
E a pobreza,
Para ser livre.

A fé, cristã,
Para andar de noite,
E, sobretudo, para andar de dia.

E, em todo caso, irmãos,
Eu me atenho ao já dito:


A Esperança!

DEUS É DEUS

Paulo Gabriel





















Eu faço versos e creio em Deus.
Meus versos
andam cheios de Deus, como pulmões
cheios do ar vivo
Carlos Drumond de Andrade
faz – fazia – versos,
melhores que os meus,
e não acreditava em Deus.
(Deus não é simplesmente a Beleza.)

O Che entregou sua vida pelo Povo
se não via a Deus na montanha.
Eu não sei se poderia conviver com os Pobres
e não, topasse a Deus em seus farrapos;
se Deus não estivesse, como brasa,
queimando-me o egoísmo lentamente.
(Deus não é simplesmente a Justiça)

Muitos humanos içam suas bandeiras
e cantam á Vida,
deixando a Deus de lado.
Eu só sei cantar dando seu Nome.
(Deus não é simplesmente alegria.)

Talvez eu não soubesse andar pelo caminho
se Deus não estivesse, como a aurora,
rompendo-me a neblina e o cansaço.
E há sábios que caminham imperturbavelmente
contra o brilho de Deus,
fazendo História,
desvelando mistérios e perguntas.
(Deus não é simplesmente a Verdade.)

...Verdade sem argumentos,
Justiça sem retornos,
Amor inesperado,


Deus é Deus, simplesmente!

EM NOME DE DEUS

Flávia Brito





















Em nome do Deus de todos os nomes
Javé
Obatalá
Olorum
0ió.
Em nome do Deus, que a todos os Homens
nos faz da ternura e do pó.
Em nome do Pai, que fez toda carne,
a preta e a branca,
vermelhas no sangue.
Em nome do Filho, Jesus nosso irmão,
que nasceu moreno da raça de Abraão.
Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto
do negro folião.
Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro
sem dividição.
Em nome dos Três
que são um Deus só,
Aquele que era,
que é,
que será.
Em nome do Povo que espera,
na graça da Fé,
à voz do Xangô,
o Quilombo-Páscoa
que o libertará.
Em nome do Povo sempre deportado
pelas brancas velas no exílio dos mares;
marginalizado
nos cais, nas favelas
e até nos altares.


Em nome do Povo que fez seu Palmares,
que ainda fará Palmares de novo
-Palmares, Palmares, Palmares
do Povo!!!

JUNTO AO VOSSO CANTO

Lucilene


















Meu silêncio seja
meu poema, irmãos,
junto ao vosso Canto.

Seja minha ausência
como um vôo de garças
abraçando a Tarde,
nesse Vôo de garças
que invadiu o Dia
com o vosso Canto.

Velhos de Esperança
- tantas Luas cheias,
tantas Noites foscas –
eu e o Araguaia
já nos conhecemos,
rios de um só rio
ajeitando o curso
entre Deus e o Povo.

Junto ao vosso Canto,
boca coletiva,
seja meu silêncio
posto de joelhos
uma escuta nova.

Quero ouvir o Povo!

Quero ouvir o grito
das Crianças mortas
comandando a Vida.
Quero ouvir as covas
dos Peões do trecho
soletrando vivos
os perdidos nomes.
Quero ouvir os Pobres
num clamor de enxadas
conquistando a Terra.
Quero ouvir a dança
das Aldeias novas
nas antigas flautas
acordando o Mundo.

Toda minha sede,
cuia de silêncio,
beba em vosso Canto
o Araguaia Novo,
luta nas enchentes,
festa no banzeiro,

Povo, Povo, Povo!

OLHOS NOVOS

AGUEDA BORGES





















Então verei o sol com olhos novos
e a noite e sua aldeia reunida;
a garça branca e seus ocultos ovos.
e pele do rio e sua secreta vida.
Verei a alma gêmea de cada homem
na inteira verdade de sua querência;
e cada coisa em seu primeiro nome
e cada nome em sua realizada essência
Confluindo na paz do teu Olhar,
verei, por fim, a encruzilhada certa
de todos os caminhos da História
e o reverso de festa da Morte.
E fartarei meus olhos em tua Glória,
para assim sempre mais ver, ver-me e ver-Te!


CONFISSÕES DO LATIFÚNDIO

Maria Aparecida ( Parré )
















Por onde passei,
plantei
a cerca farpada.
plantei a
queimada.

Por onde passei,
plantei
a morte matada.


Por onde passei,
matei
a tribo calada,
a roça suada,
a terra esperada...


Por onde passei,


tendo tudo em lei,

eu plantei o nada.

CABRA DA PRELAZIA






















Meus amigos aqui presentes
E de toda freguesia
Os que vieram de Sumpaulo
Os que saíram da Bahia
Os que estão aqui sozim
Os estrangeiro da Oropa
A todos eu vos saúdo
Sou cabra da prelazia!

Você que está me escutando
Que veio pra essa romaria
Trazendo na mente esperança
E no coração alegria
Você que é João, que é Mané
Helena, Clotilde e Maria
Comprido, Tonhão, Filomena
E outras tantas companhia
Agora vou me apresentá:
Sou cabra da prelazia!

Eu vivi nessa região
Onze anos e seis dia
Aqui nasceu meus minino
Aqui foi minha moradia
Há oito anos eu parti
Co´s fios, a muié e a fia
E apesar de tanto tempo
Longe dessa rancharia
Bato nos peito e afirmo:
Sou cabra da prelazia

Quando na cidade grande
Eu visito a periferia
E vejo aumentá as miséria
E o pobre naquela agonia
Mas vejo a luta dos sem casa
O movimento de moradia
A pobreza me dá uma raiva
Os pobre me dá alegria
E se tudo isso me toca
Sou cabra da prelazia!

Quando nas roda de bar
Nos ônibus ou na padaria
Eu falo que o FHC
É a maior patifaria
Ao dizer que o Real vai bem
Quando aumenta a carestia
E alguém me diz “Ocê ta certo
Disse o que eu não percebia”
Ai eu suspiro orgulhoso:
Sou cabra da prelazia!

Nas prefeituras popular
Que trabalho dia a dia
Essas que larga as elite
E olha pras periferia
Melhorando a educação
Creche, saúde, moradia
E com a tal participação
Decide coma maioria
Eu penso feliz cá comigo:
Sou cabra da prelazia!

To vendo alguém estranhá
Essa miha cantoria
Não precisa morá em São Félix
Pra ser dessa prelazia?
Quem vai na igreja faz parte
Quem saiu fora....fazia!
O que é ser da prelazia
Não me venha engalobá
Co´essas treita da poesia!

Ora, ora deixa disso
Falo e lhe dou garantia
Quem gosta de comunidade
E sonha com uma pátria sadia
Quem tem o chamego do povo
E fé na democracia
Você, eu, qualquer um
Que tem essa doce mania
Afirmo sem medo de errá:


É cabra da prelazia!