Pedro Casaldáliga |
Nossas vidas
são os rios.
Minha vida é
este Araguaia!
Indescritível,
indecifrável.
Que se ama e
se agradece, e se teme e se deseja;
ao qual se
volta sempre,
como a um
lar, fatídico e feliz.
Exuberante e
cruel,
a multiforme
fauna,
presente
ainda, condenada.
Os jacarés
espichados, que atenazam o sol,
As placas
insidiosas das Arraias.
As piranhas
que serram carne viva.
E os peixes
elétricos,
estalando a
morte.
E os peixes
de todos os tamanhos e luzes,
vorazes ou
pacíficos,
miúdos,
brincalhões,
voadores.
(os peixes
que dão vida,
holocausto á
brasa e á pimenta.)
Os pássaros,
vestidos a rigor,
senhores,
diplomatas.
Essa fileira
de patos colegiais,
que espera
um ônibus ali na margem...
E, de súbito,
o pulsar
frágil de
uma canoa.
E as nuvens,
acima,
cansadas e
fecundas.
As famílias
que chegam, retirantes;
os enfermos
que vão á deriva;
as cargas, e
as cartas trêmulas;
as mulheres
batendo a trouxa indiscreta;
os homens na
popa, os homens no remo;
e os meninos
banhando-se,
somando-se
ás águas, como peixes.
E eu, pela
manhã, lavando-me do sono
com o espelho
incandescente ao sol da outra margem;
eu, pela
tarde, entrando, reverente, estrangeiro,
vestido pela
luz poente e pura
na liturgia
destas grandes águas...
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